sexta-feira, 3 de abril de 2009

Como o celebrado Mouton-Rothschild, um dos grandes vinhos de Bordeaux, fez história ao criar rótulos assinados por gênios








PABLO PICASSO: criou o rótulo da safra de 1973 e ganhou caixas da bebida como pagamento

Se a Baron Philippe de Rothschild, uma das grandes produtoras de vinho de Bordeaux, fosse um museu de arte, faria muitas instituições ao redor do mundo amargarem o sabor da inveja. Desde 1945, a empresa, cuja estrela é o Château Mouton-Rothschild, coleciona obras de mestres como Pablo Picasso, Salvador Dalí, Joan Miró, Marc Chagall, Andy Warhol e Francis Bacon, entre outros gênios da arte contemporânea. Só que, em vez de expor as telas em paredes, ela as estampa nos rótulos do Mouton. Cada safra leva a assinatura de um artista de peso e, a cada ano, o lançamento é ansiosamente aguardado. Na semana passada, a vinícola matou a curiosidade dos enófilos: apresentou o rótulo da safra 2005 que, em breve, chegará às lojas. O artista da vez é o talentoso escultor italiano Giuseppe Penone. Ele não é internacionalmente conhecido como Henry Moore, o escultor inglês que assinou o rótulo da safra de 1964, mas, ao criar para a Mouton- Rothschild, entrará em uma galeria de mitos. Primeiro porque seu trabalho estará ao lado das criações das mentes mais brilhantes do último século. Segundo porque seu nome sempre estará ligado ao Mouton-Rothschild, ícone que, em 1973, foi elevado à Premier Grand Cru Classé, honraria destinada aos melhores vinhos de Bordeaux como Château Margaux, Château Lafite, Château Latour e Château Haut-Brion.
FRANCIS BACON: pintor anglo-irlandês foi o escolhido em 1990
A primeira vez que o Mouton-Rothschild foi brindado com uma obra de arte no rótulo foi em 1945, logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Nos conturbados anos entre 1940 e 1944, durante a Grande Guerra, a vinícola permaneceu nas mãos dos alemães e o Barão Philippe de Rothschild refugiado na Inglaterra. Quando a guerra acabou, Rothschild decidiu estampar um rótulo comemorativo e encomendou o trabalho ao jovem artista Philippe Julian. Ele recebeu caixas da bebida como pagamento – prática adotada até hoje – e criou um rótulo com a letra “V”, que significava a vitória e também representava o famoso gesto do, então primeiro- ministro inglês, Winston Churchill. Assim, inaugurou uma prática que marcaria a história do Mouton-Rothschild e posicionaria a vinícola ainda mais no topo. “Ele vende muito mais do que vinho”, diz José Roberto Martins, diretor da Global Brands, consultoria de gestão de marcas. “Trata-se de vender um conceito, um estilo de vida.”
ANDY WARHOL: um dos mestres da arte contemporânea, ele assinou o rótulo de 1975
Um conceito, é bom salientar, que conquistou os apreciadores de vinho, pois mescla a arte de fazer vinhos excepcionais com a arte de criar rótulos únicos.
Uma união de características que eleva o seu preço. “Dos grandes vinhos, o Mouton-Rothschild é um dos mais procurados”, diz Marlene Kratz, gerente de relacionamento da Expand.
Algumas safras do Mouton-Rothschild custam pequenas fortunas. Uma garrafa de 1945 não sai por menos de 8 mil euros. A de 1982 custa 1,7 mil euros, a de 2000 sai por 940 euros e a de 2005, estima o mercado, deverá custar 800 euros. É um investimento que se valoriza com o passar dos anos. Por isso, seus rótulos também são muito desejados e alvo da indústria da pirataria. DINHEIRO pediu ao departamento de imprensa da Baron Philippe de Rothschild imagens de rótulos antigos. Cécile Loqmane, a responsável pela área, explicou que a empresa não divulga as imagens dos rótulos antigos por medo de que possam ser usadas por piratas. É um esforço inútil. No site de leilão eBay, alguns exemplares são vendidos por até US$ 100. E, mesmo que algum pirata tente batizar uma garrafa com o rótulo de um Mouton- Rothschild, é impossível enganar o paladar. Um Mouton-Rothschild sempre será um Mouton-Rothschild.

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