sexta-feira, 3 de abril de 2009

Chateau Mouton Rothschild 1980


A história desta lenda viva de Bordeaux começa em 1853, quando o Baron Nathaniel de Rothschild, um dos membros do ramo inglês da família, comprou em Pauillac uma propriedade chamada Château Brane-Mouton, renomeando-o Château Mouton Rothschild.As mudanças reais na propriedade começaram em 1922, quando Baron Philippe, então com 20 anos, decidiu se encarregar da propriedade, imprimindo nos 65 anos que se seguiram, enquanto esteve à frente da companhia, toda a sua forte personalidade, seu tino empresarial e principalmente seu senso inovador.Em 1924, começou a praticar algo até então inédito na região, o engarrafamento na propriedade, mantendo total controle sobre o vinho produzido. Hoje, a prática está disseminada na região, sendo regra para vinhos de alta qualidade. Esta decisão implicou no aumento da capacidade de armazenamento dos vinhos, o que se traduziu em 1926 na construção do Gran Chai, com 100 metros de extensão, que até hoje impressiona por sua dimensão e imponência.Na década de 30, dois acontecimentos marcaram a empresa: a compra do Château Mouton d?Armailhacq (posteriormente renomeado Château d?Armailhac) e o início da comercialização do Mouton Cadet. Uma pequena empresa de comercialização de vinhos, adquirida junto com o Armailhac viria a se constituir posteriormente na Baron Philippe de Rothschild S.A, hoje um gigante na comercialização de vinhos de qualidade.Arte e vinho, casamento perfeitoNo final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Baron Philippe teve a idéia bastante original de colocar no rótulo do Mouton Rothschild um símbolo para comemorar a liberdade da França: o V da vitória. Desde então, o Mouton ostenta em seu rótulo um trabalho original de um grande artista, identificando cada uma das safras. Já passaram pelo privilegiado espaço artistas como Miró, Chagall, Braque, Picasso, Warhol, Bacon, Balthus e muitos outros.Para completar este casamento com a arte, o Baron Philippe criou na década de 60 o Museu de Vinho em Arte, uma preciosa coleção de obras relacionadas ao vinho e às vinhas desde o início da civilização até os dias atuais.Nos anos 70 aconteceriam fatos muito importantes que marcaram a ida da Mouton. O de maior relevância, sem dúvida, foi a mudança da classificação de 1855, a primeira e a única ocorrida até hoje, tornando o Mouton Rothschild um ?Premier Grand Cru Classé? de Bordeaux, após uma obstinada luta do barão por cerca de 20 anos. Quando isso ocorreu, houve também a mudança das desafiadoras palavras colocadas por Philippe no rótulo de seus vinhos. Saiu a frase ?Premier ne puis, second ne daigne Mouton suis? (Primeiro não posso ser, segundo não me considero, Mouton eu sou), e entrou ?Premier je suis, second je fus, Mouton ne change? (Primeiro eu sou, segundo eu fui, Mouton não muda). Também nesta época Rothschild adquiriu o Château Clerc Milon, situado em Pauillac.Com a morte do Baron Philippe em 1988, sua filha, a baronesa Philippine de Rothschild, que já vinha trabalhando com o pai há algum tempo, assumiu o comando da empresa. Foi idéia da baronesa a criação em 1991 de um vinho branco, o Aile d?Argent, produzido a partir de 10 acres de vinhedos de sémillon, sauvignon blanc e muscadelle, assim como em 1994, da produção de um segundo vinho em Mouton, o Le Petit Mouton de Mouton Rothschild.Tesouro que vem de pedrasA propriedade de 205 acres em Pauillac é plantada com as uvas cabernet sauvignon (77%), merlot (12%), cabernet franc (9%) e petit verdot (2%). Está situada num local conhecido como Mouton Plateau, 27 metros acima do nível do mar, onde o solo é constituído por calcário e pedregulho. A drenagem deste terreno se faz por gravidade, diretamente na Gironde, o estuário formado pelos rios Garonne e Dordogne, em Bordeaux.As vinhas tem idade aproximada de 46 anos e são plantadas em alta densidade, cerca de 8.500 plantas por hectare, o que aumenta consideravelmente a qualidade das uvas produzidas. Os responsáveis pelo vinhedo realizam delicadas operações de manejo, entre elas a remoção de folhas e até de cachos de uva para obter frutas mais concentradas, de acordo com as características de cada safra. O rendimento médio do vinhedo é de 40 a 50 hectolitros por hectare.A data da colheita das uvas é determinada não apenas pelos extensivos testes realizados em sofisticados laboratórios, mas principalmente pelos dados obtidos pelos enólogos que experimentam as uvas diretamente no vinhedo, dia após dia, aguardando a máxima maturidade fisiológica das uvas, em particular dos seus taninos.Uvas colhidas uma a umaNo Château Mouton Rothschild a vinificação é realizada de forma muito cuidadosa e seguindo rigorosamente toda a tradição da empresa. Colhidas inteiramente a mão, as uvas são colocadas em caixas de 12 kg e selecionadas cacho a cacho e depois grão a grão. A fermentação é realizada em tanques de madeira com controle de temperatura, obedecendo a especificidade de cada safra, com respeito à temperatura de fermentação, remontagem, aeração e tempo de maceração. Em média, o período de fermentação somado ao de maceração dura de 15 a 25 dias.Uma vez terminada a fermentação é realizada a mescla final e o vinho é transferido para barricas novas de carvalho francês, quase em sua totalidade (80% a 90%), onde permanece por um tempo de 19 a 22 meses, sendo engarrafado sem qualquer filtração. O resultado deste trabalho é um vinho de rara opulência e concentração, diferente de tudo o que se produz em Pauillac, de grande apelo e muito prazeroso.DegustaçãoMouton Rothschild 1996 ? um clássico muito representativo da extraordinária safra de 1996 em Bordeaux, este Mouton é um corte de cabernet sauvignon (77%), cabernet franc (10%) e merlot (13%). A cor é um impressionante rubi muito escuro, ainda sem sinais de evolução e o vinho exibe aromas deliciosos de frutas escuras muito maduras (cassis e ameixas), com sofisticadas notas de couro novo, especiarias, café torrado e chocolate. Na boca, mostra grande equilíbrio entre a refrescante acidez e o álcool, excelente concentração, bom corpo, taninos muito finos ainda bastante presentes, longa persistência e muita complexidade no retro-olfato. Tem longa vida pela frente e deve melhorar muito com mais alguns anos de guarda em adega devidamente climatizada.Mouton Rothschild 2002 (amostra de barrica) ? um recém-nascido muito bem nutrido, constituído por cabernet sauvignon (77%), cabernet franc (10%), merlot (12%) e petit verdot (1%), com rendimento de 25 hectolitros por hectare e ainda em barricas novas de carvalho francês (10% ainda estão reservados no aço inoxidável). Como seria de se esperar, a cor é púrpura, quase negra. Os aromas já demonstram sua qualidade, revelando geléias de frutas escuras (amoras, ameixas e cerejas negras), com evidentes toques de torrefação, alcaçuz e chocolate, além de delicadas notas de carvalho finamente tostado. Possui imensa concentração de sabores, ótima acidez, taninos finíssimos e longa persistência. Promete muito e dá uma amostra do potencial desta safra em Bordeaux.

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