quarta-feira, 18 de março de 2009

Gostaria da ajuda de meus amigos...


Até 1996 Robert Parker nunca deu nota 100 para um vinho? Verdade ou mentira.

Convite para Degustação Cortesia Vinhos Italianos‏


As adegas milionárias...




Existe um pequeno grupo de afortunados brasileiros que, além de ter dinheiro, poder, grandes negócios e um nome famoso, são donos de inacreditáveis tesouros engarrafados. Só os amigos com quem compartilham a milionária paixão fazem idéia do que eles guardam em seus fabulosos subterrâneos. Trata-se das mais fantásticas adegas do Brasil. Pertencem a colecionadores como o ex-prefeito Paulo Maluf, o homem de televisão José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o empreiteiro Emílio Odebrecht, os herdeiros do também empreiteiro Sebastião Camargo, o industrial Ivo Rosset, o ex-senador Gilberto Miranda, as estrelas da medicina Silvano Raia e Fúlvio Pileggi, o banqueiro Walter Moreira Salles, o magnata dos shopping centers Roberto Baumgart e alguns outros figurões. É assombroso o que eles armazenam em suas cavernas dignas de Ali Babá: vinhos e mais vinhos de rótulos lendários que valem 1 000, 2 000 e até 10 000 dólares a garrafa. Uma única taça de semelhantes preciosidades pode custar 25 salários mínimos, ou 230 gramas de ouro. Não se monta uma adega de tal porte com menos de 500 000 dólares. As maiores estão avaliadas entre 3 e 5 milhões de dólares pelos especialistas do mercado.
Cinco milhões de dólares em vinho? Para clonar uma adega igualzinha à de Baumgart, o caro leitor, que se deleita com um agradável Chianti de 20 reais no acompanhamento do macarrão dominical, teria de dispor de uma quantia mais ou menos como essa. A cave de Baumgart fica na parte mais baixa do palácio de cinco pisos, com 5 100 metros quadrados de área construída, que ele inaugurou no ano passado em São Paulo. Desce-se por elevador até a garagem para trinta carros, passa-se por um Rolls-Royce 1950, um Porsche turbo, dois Mercedes, e pronto: ali está a adegona. "É a melhor do Brasil", afirma o especialista Miguel Juliano, cujas 6 700 garrafas incluem raríssimos vinhos Madeira do século XIX. Diferentemente de Juliano, arquiteto e importador de bebidas, de Maluf e de Boni, proprietários de relíquias que sabe-se lá se um dia serão destampadas, Baumgart não tem antiguidades. O que ele tem são quantidades estonteantes de todas – exatamente, todas – as mais célebres e caras bebidas de Bordeaux, a principal região vinícola do mundo, lançadas nas duas últimas décadas.
"Não me arrisco", explica Baumgart. "Compro apenas os melhores." Ele juntou pelo menos 10000 garrafas. Se beber uma por dia, levará 27 anos para esvaziá-las. Não parece haver risco de que isso venha a acontecer. Ele continua comprando muito. Numa de suas recentes aquisições, recebeu um carregamento com setenta caixas da safra de 1990. São doze garrafas por caixa. Portanto, foram mais 840 garrafas. Num canto da adega, pode-se ver o seguinte: treze caixas fechadas de Château Lafite-Rothschild, dezessete de Château Petrus, 22 de Château Latour e 25 de Château Mouton Rothschild, tudo empilhado. Pretende esperar que amadureçam para tirar da embalagem. Somente neste lote, acabou-se de somar 700 000 dólares. Em nichos na forma de losango, repousam os vinhos prontos para beber. Cerca de 90% são de Bordeaux. O resto é quase tudo da Borgonha, a outra grande região produtora da França.
Maluf mostra seus tesouros para Serena e Juliano, dono de um raríssimo Madeira 1870: em matéria de Romanée-Conti, nem o dono da lendária vinícula francesa concorre com o ex-prefeito
A mudança de Maluf – Na Borgonha, as jóias mais cobiçadas vêm do Domaine de La Romanée-Conti. Saem da pequena propriedade, com uma cruz de pedra do século XVIII na entrada, sete vinhos diferentes, de preços estratosféricos. O do topo é um mito chamado Romanée-Conti, do qual se arrolham 6 000 garrafas por ano, disputadas acirradamente pelos bebedores mais ricos do planeta. Das safras ainda disponíveis, a número 1 é a de 85. No Brasil, cada garrafa é vendida por 11.800 dólares. Isso mesmo: 20.300 reais pelo câmbio comercial, suficientes para adquirir dois Uno zero-quilômetro (sobra troco para quatro caixas de vinho chileno comum). Muito bem. Em uma das dezenas de escaninhos de Baumgart repousa uma dúzia de Romanée-Conti 85. Ou seja, mais 141 600 dólares. A caixa foi-lhe oferecida por um vendedor, que reservara seis garrafas para Baumgart e seis para Emílio Odebrecht. Baumgart respondeu que ou comprava tudo ou não comprava nada. Ficou com as doze.
Em matéria de Romanée-Conti, no entanto, ninguém é páreo para Paulo Maluf. Quatro anos atrás, ele deu um jantar em homenagem a Aubert de Villaine, um dos proprietários da vinícola. Villaine foi ver sua adega e ficou abismado. "Nem eu tenho uma coleção como essa de meu próprio vinho", comentou para alguns convidados, depois de constatar que o então prefeito de São Paulo acumulara dezenas de garrafas das suas seis grandes safras do pós-guerra (61, 66, 71, 78, 85 e 90). Estima-se que ele tenha 130, que custariam hoje, por baixo, meio milhão de dólares. "Não confirmo nem desminto", diz Maluf. "Eu coleciono vinhos desde que casei, em 1955, muito antes portanto de entrar na vida pública", acrescenta. "De vez em quando, dentro de minha hospitalidade libanesa, abro vinhos que comprei a preço baixo, na safra, trinta anos atrás."
Na verdade, uma parte importante do acervo líquido de Maluf, 67 anos, já estava em tonéis quando ele nasceu. São os premiers grands crus classés, máximo do máximo de Bordeaux, da remota e quase inigualável safra de 1928. "Ele possui dezenas de garrafas desse ano", garante um freqüentador de sua casa. Tem, igualmente, uma ampla variedade das valorizadíssimas vindimas de 1945, 1953, 1955 e 1959. Considerar um vinho melhor do que outro, porém, como tudo na vida, envolve uma questão de gosto pessoal. O preferido de Maluf é o Château Cheval Blanc 47. Há quem o classifique, por sua maciez, equilíbrio, corpo e aroma, como o tinto do século. Quando surge em leilões na Europa e nos Estados Unidos, os lances vão de 5 000 dólares para cima.
No ano passado, os vinhos de Maluf tiveram de mudar de lugar. Sua adega original ficara pequena. Ele aproveitou uma reforma na garagem para construir outra. O projeto foi inspirado na adega com tijolinhos à vista do cantor espanhol Julio Iglesias, um refinado bebedor. Para transferir as garrafas, Maluf convocou dois amigos. Durante um sábado, os três trabalharam das 11 da manhã à meia-noite. Terminaram a tarefa com as roupas sujas de pó. Como qualquer adega do mesmo nível, ela dispõe de um sistema automático de refrigeração, com umidade controlada. É nessas condições que vinhos excepcionais, colocados na posição horizontal, amadurecem, envelhecem e sobrevivem por décadas, aprimorando suas qualidades. Malconservados, oxidam e podem virar vinagre.
Reprodução Eduardo Arabello
Ethel, Miranda e Pileggi na confraria: Château Petrus e música barroca
Bebedores generosos – Uma característica comum dos supercolecionadores de vinhos é o desprendimento. Não hesitam em apanhar o saca-rolha quando recebem pessoas capazes de realmente apreciar o que vão beber. "É preciso amigos e conhecedores, em qualidade e quantidade, para que se possam abrir essas grandes garrafas", diz Boni. Maluf adora alardear que, nos anos 80, o jornalista Warren Hoge, do The New York Times, foi comer em sua casa. "O que vamos beber?", perguntou Maluf. "Um Romanée-Conti 66", teria brincado o jornalista, referindo-se a uma safra que se compra unicamente em leilões internacionais. Maluf serviu duas garrafas. Em compensação, limitou-se a oferecer uma rodada de cafezinho para a inglesa Serena Sutcliffe, diretora da área de vinhos da casa de leilão Sotheby's, que em setembro passado pediu para conhecer sua nova adega – e, a exemplo do francês Villaine, ficou admirada com o que viu.
Na turma mão-aberta, destacam-se os banqueiros Edemar Cid Ferreira e Miguel Ethel, o cardiologista Fúlvio Pileggi e o industrial Ivo Rosset. A cada quinze dias, nas tardes de sexta-feira, eles se reúnem com mais uma dezena de abonados bebedores para reverenciar Baco na mansão paulista do ex-senador Gilberto Miranda. Formam uma das várias confrarias de vinho que existem atualmente no Brasil. A diferença é que nesta se toma Bordeaux de primeira linha, ao som de música barroca. Cada um leva uma garrafa, cujo conteúdo logo se socializa. O doutor Pileggi eventualmente chega com um Château Petrus (1 000 dólares pelo menos). "Minha mulher já me disse que, se vendesse meus Petrus, eu poderia comprar dois Mercedes", contou certa vez. "Para dar ao meu motorista? Prefiro beber."
Fotos: Oscar Cabral
Boni e algumas de suas 6 000 jóias: segundo os especialistas, ninguém sabe beber vinho tão bem no país
Objeto de desejo – Nessas rodas, Boni tornou-se praticamente uma unanimidade. "É a pessoa que melhor sabe beber vinho no país", afirma o expert e professor de degustações Jorge Lucki. Boni distribuiu mais de 6 000 garrafas da melhor qualidade nas suas três adegas, no Rio de Janeiro, em Angra dos Reis e em São Paulo. "Vinhos são filhos que a gente tem", filosofa. "É difícil gostar mais de um. O conjunto é que importa." Apesar disso, ele guarda com zelo absoluto uma obra-prima: o Château Mouton Rothschild 45 em garrafa de 4,5 litros. Existem 24 no mundo. A dele é a de número 5. Como os autênticos conhecedores, Boni empenha-se em realizar descobertas pessoais, percorrendo as regiões produtoras. Uma delas foi a de um lançamento de Saint-Émilion, o Château Valandraud, que apareceu na França em 1992, por 100 dólares a garrafa. "Boni percebeu nos primeiros goles que esse vinho era uma maravilha e seu preço iria explodir", lembra Elídio Lopes Cavalcanti, diretor da Expand, maior importadora brasileira. "Acertou em cheio. Hoje é um objeto de desejo e cada garrafa sai no Brasil por 1 250 dólares."
Antônio Milena
Hennel: administrando o estoque pessoal pelo laptop
Nos últimos anos, as cotações dos grandes vinhos foram mesmo às nuvens. "Viraram um excelente investimento", diz Edemar Cid Ferreira. "Quem pôde adquirir na época os melhores da safra 82 ganhou pelo menos dez vezes." Felizmente, não é necessário ser um nababo para desfrutar do prazer que um belo vinho proporciona ao olfato, ao palador e à alma. "É muito fácil beber uma ótima garrafa se você tem 1000 dólares para comprá-la", diz o empresário Affonso Brandão Hennel, presidente da Semp Toshiba e dono de uma adega tão bem abastecida que, para saber o que tem, consulta o estoque pelo seu laptop. "O desafio do bebedor competente é encontrar um vinho na faixa de 20 a 30 dólares que também lhe dê satisfação." Como encontrá-lo? "Esqueça as regiões mais famosas e procure os bons produtos de países como Chile, Argentina, Espanha, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia", sugere Hennel. "Você não gastará muito, terá belas surpresas e poderá começar a formar sua adega."